O retorno de 1% ao mês é talvez a âncora mental mais forte dos investidores brasileiros, principalmente daqueles mais conservadores e acostumados a investir em renda fixa.
Portanto, quando o Selic cai abaixo de 12% ao ano – causando investimentos menos arriscados já não oferecem a rentabilidade desejada – quem tem dinheiro guardado e muito aversão a risco geralmente fica chateado.
Mas mesmo os investidores que não se importam em assumir riscos evitam renda variável para renda fixa quando o taxa básica de juros é maior que.
Hoje, o Brasil vive um ciclo de cortes de jurosque elevou a alíquota básica de 13,75% ao ano, em agosto de 2023, para os atuais 10,75%, e com expectativa de nova queda nesta quarta-feira (08).
Ou seja, há algum tempo os investimentos mais conservadores, que rendem 100% do CDI ou a variação da Selic, eles não pagam mais aquele 1% ao mês.
Mas será que essa estratégia de buscar um retorno de 1% ao mês é mesmo a certa? Ou melhor, a escolha desse “número mágico” faz sentido ou é um tanto arbitrária?
A âncora de 1% ao mês faz sentido?
Alguém que também se perguntou sobre isso e tentou responder a essa pergunta em sua carta mensal de maio foi o gerente de ações árticoresponsável pelo fundo Ártica Longo Prazo FIA.
Liderado por Ivan Barbosa Isso é Rafael Castilhoa equipe da Ártica realizou, em sua comunicação com os acionistas, um exercício para verificar a eficiência da estratégia de migração para renda fixa sempre que a Selic estiver em patamar capaz de fazer investimentos conservadores pagarem 1% ao mês.
A gestora parte da premissa de que a maioria dos investidores brasileiros – dos iniciantes aos mais ricos – prefere a renda fixa quando as taxas de juros estão acima de 12% ao ano e só explora outras classes de ativos quando as taxas caem abaixo desse patamar, para assim buscar o desejado 1 % por mês novamente.
A questão colocada é: existe racionalidade na escolha de uma taxa de retorno fixa? E esse 1% ao mês, especificamente?
Segundo Ártica, do ponto de vista histórico, a escolha de 1% ao mês realmente fazia sentido. O gestor lembra que, nos últimos 20 anos, a média Selic ficou próxima de 11% ao ano, e é daí que vem a referência de 1% ao mês como sendo a taxa de retorno típica da renda fixa no Brasil.
É claro que a Selic oscilou bastante ao longo dos anos, chegando a cair abaixo de 2% ao ano em 2020; Houve também grande variação na taxa de interesse realou seja, a diferença entre a Selic e a inflação.
“O retorno real, o que realmente importa para os investimentos, é ainda mais volátil que a Selic”, escreve Ártica. Afinal, somente um ganho real de fato enriquece o investidor, além de apenas preservar seu poder de compra.
Na verdade, embora a taxa de juros real tenha sido quase sempre positiva, em dois anos das últimas duas décadas ela foi negativa, como mostra o gráfico a seguir, elaborado pela Ártica e considerando a meta para a taxa Selic:
A ‘armadilha’ de buscar 1% ao mês
Para testar se a regra intuitiva do investidor brasileiro está correta – ou seja, investir em renda fixa quando as taxas de juros estão acima de determinado nível e na bolsa de valores quando as taxas de juros estão abaixo dessa taxa – Ártica simulou o retorno de uma carteira de investimentos que seria 100% destinado à renda fixa sempre que a meta da Selic fosse maior ou igual a 12% ao ano e 100% destinado à renda variável quando a meta da taxa básica ficasse abaixo desse patamar.
O retorno adotado para a renda fixa foi a variação do CDI e, para a renda variável, o do Ibovespao principal índice de bolsa de estudos brasileira.
No período entre janeiro de 2004 e março de 2024, pouco mais de 20 anos, a estratégia teve um retorno médio anual de 11,8% ao ano (ou cerca de 1% ao mês), superando inclusive tanto o CDI, que rendeu 10,7% ao ano no período, quanto o Ibovespa, que rendeu 9,0% ao ano no período.
Ou seja, na verdade essa regra intuitiva brasileira rendeu um resultado positivo a menos nas últimas duas décadas. “No entanto, não existe uma justificação clara para utilizar uma taxa nominal fixa como referência nas decisões de alocação ou para que 12% seja o melhor valor para esta taxa”, alerta o gestor.
Em outras palavras, por que 12% e não outra alíquota? Aliás, nas simulações do Ártica, a taxa referencial que maximizaria o retorno no período considerado é de 11,4% – se tivesse investido tudo em renda fixa quando a meta Selic estava em 11,4% ou mais e tudo em renda variável Se os juros estivesse abaixo dessa taxa, o investidor teria obtido um retorno médio de 12,50% ao ano no período.
Se fosse adotada uma taxa de 10% ou 13% como referência para alterar a alocação nesta estratégia, o retorno já teria sido inferior ao CDI.
“A sensibilidade do retorno à taxa exata utilizada como referência indica o caráter casuístico desses resultados e o problema da adoção de regras infundadas. Portanto, é aconselhável buscar uma regra mais eficiente, exigindo ainda que seja simples e prática suficiente para qualquer investidor adotar”, diz a carta.
As altas taxas de juros tendem a derrubar os preços dos açõesem primeiro lugar porque dificultam crescimento econômico aumentando o custo de créditosegundo porque tornam a renda fixa mais atrativa, fazendo com que o investidor exija uma taxa de retorno maior da renda variável, para compensar o risco em relação à renda fixa.
Então, se o fluxo de caixa para uma empresa permanecer igual, com a Selic mais alta, o preço de suas ações precisa cair para que esses retornos se tornem atrativos. As ações então ficam baratas.
“Assim, a estratégia mais eficaz seria investir em renda variável quando as taxas de juros estiverem no nível máximo e retornar à renda fixa no nível mínimo de juros. O problema é que as taxas de juros máximas e mínimas não são fáceis de prever, tornando isso estratégia pouco implementável na prática”, diz a carta da Ártica.
Por isso, o gestor propõe uma alternativa mais viável para essa estratégia: priorizar o investimento em renda variável quando as taxas de juros começarem a cair e priorizar a renda fixa quando as taxas começarem a subir. Afinal, uma vez iniciado um ciclo, o Banco Central começa a proporcionar mais previsibilidade quanto à trajetória das taxas de juros.
Com base nessa ideia, a gestora simulou o que aconteceria se o investidor alocasse 100% da carteira em ações no início de um ciclo de cortes na meta Selic (ou seja, com a taxa próxima da máxima) e migrasse toda a carteira para a renda fixa quando a meta da Selic estava no início de um ciclo de alta (ou seja, próxima do mínimo) – algo contraintuitivo e diferente do que os investidores costumam fazer.
Com esta estratégia, o retorno médio anual do investidor teria sido de 16,3% por ano nos últimos 20 anos, muito mais do que os 11,8% da estratégia de 1% ao mês. Confira o gráfico com os resultados das simulações das duas estratégias e dos desempenhos do CDI e do Ibovespa no período:
“Destacamos também como investir em renda variável pode gerar retornos substancialmente maiores do que apenas manter todos os ativos alocados em renda fixa, mesmo nesta análise em que utilizamos o Ibovespa como referência para retorno de renda variável”, observa o gestor, na carta.
Ártica lembra que simplesmente investir em um veículo vinculado ao Ibovespa é uma estratégia totalmente passiva, em que são selecionadas apenas as ações mais negociadas do mercado, sem a preocupação de necessariamente escolher as melhores empresas para investir.
Dão então o exemplo do retorno do fundo próprio da casa, o Ártica Long Term FIA, que é gerido ativamente e apresentou uma rentabilidade média anual de 30,5% ao ano (21,6% ao ano acima da inflação), nos seus 11 anos de existência.
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Conclusões
O exercício Ártico tem em conta uma alocação algo radical, uma vez que o investidor está sempre concentrado numa única classe de ativos, sem qualquer diversificação entre classes, o que não é o ideal do ponto de vista do risco, embora tenha funcionado no período estudado em termos de retorno.
Ele fica feliz, porém, em mostrar que considerar a trajetória da Selic para priorizar uma classe de ativos em detrimento de outras dependendo da trajetória da taxa de juros pode fazer sentido.
A Ártica termina a sua carta propondo uma estratégia de investimento simples baseada nesta visão, mas que também tem em conta o fator risco.
Para o gestor, a melhor estratégia não é determinar uma taxa de retorno fixa (por exemplo, 1% ao mês ou 12% ao ano), como os investidores individuais tendem a fazer, de forma intuitiva.
Isso porque essa estratégia levaria o investidor a optar pela renda fixa em momentos de altas taxas de juros, que geralmente são aqueles em que há mais oportunidades no mercado, pois é quando os ativos de risco ficam mais baratos.
Por outro lado, o investidor seria levado a assumir riscos apenas quando as taxas de juro estão baixas, para ir “em busca do 1% perdido”, que é precisamente quando os prémios sobre activos de risco tornam-se mais baixos.
Assim, a melhor estratégia para os gestores do Ártico é priorizar ativos de risco quando o mercado está pessimista e as taxas de juros estão altas e retornar para classes mais conservadoras, como a renda fixa pós-fixada, quando o mercado está otimista e as taxas de juros estão baixas.
“Pode parecer contra-intuitivo porque é o oposto do que a maioria dos investidores faz, mas lembre-se que é dos erros da maioria dos investidores que vêm os retornos extras da minoria de investidores de muito sucesso”, finaliza Ártica, citando frases famosas de grandes investidores que apontam nessa direção:
“Tenha medo quando os outros são gananciosos e ganancioso quando os outros estão com medo.” -Warren Buffett
“Quando o mundo quer apenas comprar títulos do Tesouro, quase podemos fechar os olhos e comprar ações.” –Michael Steinhardt
“A melhor hora para comprar uma casa é quando ninguém mais a quer.” – John Maynard Keynes
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