Uma nova descoberta na investigação da crise em Americanos ganhou destaque na última quinta-feira (27): o Policia Federal destacou que o ex-CEO, Miguel Gutiérrezo ex-diretor Anna Cristina Ramos Saicali e outros ex-executivos despejaram milhões em ações AMER3 antes da descoberta de fraude contábil no varejista.
Segundo a investigação, ex-funcionários da Americanas venderam R$ 287 milhões em ações antes do anúncio do prejuízo de R$ 25,3 bilhões no balanço da empresa por “inconsistências contábeis” em janeiro do ano passado.
A descoberta fez com que os ex-executivos fossem indiciados pelo crime de utilização de informações privilegiadas, além de outros crimes sob suspeita na Operação Divulgação.
Os principais alvos da ofensiva, o ex-CEO e ex-diretor da varejista, estão foragidos.
O desembargador da 10ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro, Márcio Muniz da Silva Carvalho, decretou a prisão preventiva dos dois executivos, que estão fora do país —e a PF incluiu seus nomes na Difusão Vermelha da Interpol, a lista dos mais procurados.
Em nota, a defesa de Gutierrez disse ao Estadão que “nunca participou” de fraudes e que vem cooperando com as investigações. A defesa de Saicali não retornou o contato do jornal.
Por sua vez, a Americanas afirma que “foi vítima de fraude de resultados por parte de sua antiga administração, que manipulou intencionalmente os controles internos existentes”.
Reviva o caso aqui.
Ex-executivos da Americanas (AMER3) na mira da PF
Segundo a investigação que resultou na Operação Divulgação, Miguel Gutierrez e Anna Christina Saicali teriam vendido mais de R$ 230 milhões (R$ 171,7 milhões e R$ 59,6 milhões, respectivamente) em ações da Americanas (AMER3).
A operação foi realizada em meio à possibilidade de as fraudes contábeis bilionárias da empresa se tornarem públicas.
O pico de transações ocorreu nos meses de julho e outubro de 2022, apontam a PF e o Ministério Público Federal.
Segundo os investigadores, Gutierrez esteve diretamente envolvido na fraude, pois “participou do fechamento dos resultados”.
A PF afirma que o ex-CEO teve a palavra final sobre os números supostamente inflacionados levados ao Conselho de Administração e ao mercado.
O Ministério Público argumenta que existem inúmeras evidências de que “toda a fraude foi controlada” por Gutierrez.
Segundo a PF, ele “não só tinha conhecimento dos verdadeiros resultados, mas também sabia dos fraudulentos, que serviram de base para o recebimento de bônus milionários, e, sobretudo, recebeu apoio e teve a coautoria de os demais investigados”.
Os investigadores destacam que Anna Christina Saicali também participou do processo de fechamento dos resultados da Americanas, apesar de não ter a mesma posição de Gutierres.
Para o Ministério Público, ela seria uma das principais organizadoras da suposta fraude.
Negociação de informações privilegiadas no varejista
Os documentos de Divulgação da Operação indicam que as vendas de ações ocorreram seis meses antes da divulgação do fato relevante sobre a violação da Americanas.
Segundo autoridades, o documento enviado à CVM foi “responsável por impactar significativamente” o preço das ações da varejista.
Operações atípicas foram inclusive denunciadas ao xerife do mercado de capitais brasileiro.
A PF indica que a “iminente descoberta pelo mercado do rombo nas finanças da empresa”, com a troca de presidente da Americanas, em agosto de 2022, levou alguns investigados a realizarem “vendas milionárias de ações, antecipando o fato relevante de que geraria o colapso do preço das ações em janeiro de 2023.”
Para o Ministério Público Federal, exemplo disso é que, quando saiu a notícia de que Gutierrez seria substituído no comando da Americanas, os investigados ficaram preocupados com a impossibilidade de ocultar as fraudes contábeis do novo CEO.
Assim, segundo a investigação, o grupo tentou “reduzir as consequências” da fraude ocorrida há vários anos, “discutindo estratégias que pudessem mitigar os danos que deveriam ser comunicados ao novo CEO”.
O objetivo, segundo o Ministério Público, era arrecadar R$ 15 bilhões “por meio de falsos estratagemas”.
Quem são os investigados
Os investigadores observam que Miguel Gutierrez, Anna Christina Saicali e outros nove suspeitos então ligados à estrutura de gestão da Americanas “participaram ativamente nas supostas fraudes”.
Segundo a investigação, como os executivos sabiam que o fato relevante que seria divulgado ao mercado acarretaria uma queda substancial no preço das ações, eles “teriam antecipado e vendido centenas de milhões de reais em ações”.
Outros investigados por suposto abuso de informação privilegiada são:
- José Timotheo de Barros, que vendeu R$ 20,7 milhões em ações;
- Márcio Cruz Meirelles (R$ 6,3 milhões);
- Fábio da Silva Abrate (R$ 6,4 milhões);
- Murilo Santos Corres (R$ 7,7 milhões);
- Carlos Eduardo Rosalba Padilha (R$ 4,4 milhões);
- João Guerra Duarte Neto (R$ 3,8 milhões);
- Jean Pierre Lessa e Santos Ferreira (R$ 1,1 milhão);
- Maria Cristina Ferreira do Nascimento (R$ 803 mil); Isso é
- Raoni Lapagese Franco Fabiano (R$ 5,3 milhões).
O que dizem os investigados e Americanas (AMER3)
Ao Estadão, a Americanas respondeu com um posicionamento em nota. Confira:
“A Americanas reitera sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforça que foi vítima de fraude de resultados por parte de sua antiga gestão, que manipulou intencionalmente os controles internos existentes. A Americanas acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar legalmente todos aqueles envolvido.”
Por sua vez, a defesa de Miguel Gutierrez afirmou que o ex-CEO da Americanas “reitera que nunca participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e que tem colaborado com as autoridades, prestando os esclarecimentos necessários nos fóruns competentes”.
Até a publicação deste texto, o jornal buscou contato com a defesa do ex-diretor das Lojas Americanas, mas sem sucesso.
*Com informações do Estadão Conteúdo.
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