Ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou na última segunda-feira (17) que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a Congresso não comprovou “integralmente” o cumprimento da decisão do Tribunal que proibiu a orçamento secreto.
Como mostrou o Estadão, a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua distribuindo recursos aos parlamentares aliados sem transparência e sem critérios —repetindo o mecanismo que marcou o governo de Jair Bolsonaro (PL).
Considerando a “manda clara” do Supremo para derrubar o orçamento secreto — caso revelado pelo Estadão —, Dino marcou uma audiência de conciliação para o dia 1º de agosto para discutir o “cumprimento integral” da decisão do tribunal.
“Não há dúvida de que os Poderes Legislativo e Executivo possuem ampla discricionariedade quanto à destinação dos recursos orçamentários, o que não exclui o dever de observar os princípios e procedimentos contidos na Constituição Federal – inclusive os postulados da publicidade e da eficiência. abrem-se caminhos que conduzem a múltiplas formas de responsabilização, que procuramos prevenir com a decisão agora proferida”, disse o ministro.
Dino comandará a audiência, que contará com a participação do procurador-geral da República, Paulo Gonet, do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, o procurador-geral da União, Jorge Messias, representantes dos chefes de direito na Câmara e no Senado e advogado do PSOL.
Isso porque o partido é o autor da ação que culminou no veto ao orçamento secreto.
Persistência do orçamento secreto
Ex-ministro da Justiça no governo Lula, Dino herdou a relatoria do processo ao assumir a presidência da ministra Rosa Weber, que liderou a ação sobre o orçamento secreto no STF.
A decisão que Dino assinou ontem surgiu depois de entidades “amigas do Tribunal”, como a Associação Contas Abertas, a Transparência Brasil e a Transparência Internacional Brasil, apontarem a persistência de mecanismos orçamentais secretos na distribuição de alterações parlamentares.
Após analisar as denúncias das agremiações, o ministro pediu declarações de Lula e dos presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
“Pizza de Amêndoas”
Um dos pareceres — mais especificamente, o do Ministério do Planejamento e Orçamento — foi citado por Dino em seu despacho.
O ministro do STF relembrou a resposta do governo ao afirmar: “Não importa a embalagem ou o rótulo (RP 2, RP 8, ‘emendas da pizza’). A mera mudança de nomenclatura não constitucionaliza uma prática classificada como inconstitucional pelo STF”.
Ao Tribunal, o ministério disse que as alterações classificadas como RP 2 nos sistemas do ministério “não apresentam qualquer exigência de necessidade de indicação do beneficiário nem, nem, para o autor da alteração, de indicação da ordem de prioridades”, segundo ao decreto assinado em março de 2023.
“Essas dotações não exigem identificação da origem da alteração”, afirmou o ministério.
Orçamento secreto e “emendas do Pix”
Por outro lado, Dino não analisou o argumento de que haveria descumprimento da decisão do orçamento secreto com a adoção das chamadas “emendas do Pix”.
Ele entendeu que esse tipo de transferência não foi objeto do julgamento realizado pelo STF em dezembro de 2022.
A emenda do Pix permite a transferência sem que o parlamentar defina como o dinheiro deverá ser utilizado pelo destinatário. Assim, as prefeituras e os governos estaduais são livres para gastar os recursos e não precisam prestar contas.
*Com informações do Estadão Conteúdo
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